as primeiras fotos são os únicos registros do meu aniversário de 10 anos. com direito a rolê dramático de ambulância e cadeira de rodas, fui pro hospital pra me recompor de vômitos incessantes. lembro com uma clareza até desnecessária, de reunir as poucas forças do meu frágil corpo de criança pra vomitar uma parada escura e de um amargor sem fim. então a médica explicou para minha mãe (coitadas das mães...) que aquilo se tratava de um "conteúdo do intestino", já que eu tava esvaziada.
esvaziada.
com medo real de não sobreviver aos meus 10 anos de idade.
e ainda com muito nojo e vergonha de mim.
porque eu não podia comemorar meu aniversário como toda criança?
porque eu colocava minha família em preocupação e sofrimento?
porque eu sentia que meu corpo definhava?
depois de quatro dias de internação, sem respostas, fui pra casa. e a primeira coisa que eu fiz quando cheguei, foi brincar de médica no quintal, com esse jaleco da aula de ciências e os sapatos da minha mãe, que tirou essas fotos, supresa pela minha brincadeira.
mas ué, brincar não é o que uma criança deveria fazer, independente da situação? além de demonstrar minha admiração pelas "tias" que tanto me ajudaram.
pasito a pasito, nos 10 anos seguintes, fui compreendendo que eu não era problemática e aprendi outras formas de expurgar o que era demais pra absorver (ainda que as toxinas sociais testem MUITO meu estômago).
mas isso só foi possível porque eu tive tempo de qualidade pra não me culpabilizar pelas circunstâncias. tive toda uma infância pra brincar de teatrinho, plantar árvore, nadar no mar, rir com minha família e me lambuzar com sorvete.
é isso que uma criança precisa, pra se tornar um adulto minimamente digno. ou, simplesmente, pra sobreviver além dos 10 anos de idade.
abaixo, algumas provas sociais de que meu drama gástrico não me impediu de viver uma infância muito feliz & autêntica & pqpquesaudade
Comments