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momento de limpar e organizar

acordo com meu pai saindo daqui de oz pro trabalho, em santo andré. vou pro banheiro, decidida a lavar minha franja que, bem diferentemente das minhas mãos, não sabe o que é limpeza faz uns dias. sento na privada, vou pro whatsapp.


entre os amigos, mensagens de luto pelos estabelecimentos locais, que como o comércio do meu pai, nasceram e cresceram artesanalmente, com zelo e dedicação diárias. mas agora se despedem abruptamente, sem chance de cerimônia.


ouço áudios dos meus clientes que trabalham com artes & sutilezas humanas, me perguntando como nos organizar, o que comunicar nos próximos meses.


acabo chorando. julgando que minhas poucas respostas podem ser ilusões do meu privilegiado otimismo, enquanto o sofrimento taí em milhões.


me conscientizo da presença dele.

o auto sabotinho, meu inimiguinho.


meu choro é pela dor da mudança em larga escala.

não por medo.


pelada na privada, fui fechando os olhos pras cenas de patifaria dos últimos dias, lembrando que meu universo tá aqui na minha cabezita. então fui resgatando as minhas verdadeiras crenças: de que a vida pode ser mais simples, que o coletivo tem força, que todo ser humano tem energia pra se refazer. ninguém é um emprego e también ninguém é os seus medos.


o medo é solo infértil, dele nada surge. então não tem pq se identificar com ele. cabeça vazia não é oficina do diabo. cabeça aterrorizada que é.


eu já tô bem diferente da foto, de banho tomado, cara desinchada, caos mental suavizated. tudo o que você tem é você, então se cuide. esse é o momento pra limpar e organizar a casa que existe em nós.

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